quinta-feira, 29 de setembro de 2011

"Lá quando a Tua voz deu ser ao nada" - Soneto de Bocage



Domingos Sequeira, Alegoria à Fundação da Casa Pia, 1792-1794



Lá quando a Tua voz deu ser ao nada


Lá quando a Tua voz deu ser ao nada,
Frágil criaste, ó Deus, a Natureza;
Quiseste que aos encantos da beleza
Amorosa paixão fosse ligada:

Às vezes em seus desgostos desmandada,
Nos excessos desliza-se a fraqueza;
Fingem-Te então com ímpeto, e braveza
Erguendo contra nós a dextra armada:

Ó almas sem acordo, e sem brandura,
Falsos órgãos do Eterno! Ah!… Profanai-o,
Dando-lhe condição tirana e dura!

Trovejai, que eu não tremo e não desmaio;
Se um Deus fulmina os erros da ternura,
Uma lágrima só Lhe apaga o raio.


 
 

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