terça-feira, 1 de novembro de 2011

"Inscrição para um portão de cemitério" - Poema de Mário Quintana


Emil Nolde, Irises and poppies 



Inscrição para um portão de cemitério 


Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"


Mário Quintana
 (A Cor do Invisível)


 Emil Nolde, Blumengarten, 1908


Dos mundos 


Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo...
Decerto não gostou lá muito do que via...
E foi logo inventando o outro mundo.


Mário Quintana
 (Espelho Mágico)


Emil Nolde, Large poppies, 1942
 

Os degraus 


Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma. 
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...


Mário Quintana 
(Baú de Espantos)


Emil Nolde, flower garden (marigolds) ,1919


Da discrição


Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...


Mário Quintana 
(Espelho Mágico)


Emil Nolde, Sunflowers


Das utopias


Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!


Mário Quintana 
(Espelho Mágico)


 Emil Nolde, Sunflowers, 1917
 

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