sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

"Amor, que o gesto humano na alma escreve" - Soneto de Luís de Camões


Guercino (1591-1666), The Angel appears to Hagar and Ishmael1652-3



Amor, que o gesto humano na alma escreve


Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoidece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento. 


in Sonetos


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