sábado, 3 de dezembro de 2011

"As duas flores" - Poema de Castro Alves


George Cochran Lambdin (American Victorian artist, 1830-1896), 
"Two Blossoming Pink Roses and Vines"



As duas flores 


São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar. 

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!


 
 
Castro Alves
 
 
Poeta brasileiro, António Frederico de Castro Alves nasceu a 14 de março de 1847, na fazenda de Cabaceiras, em Muritiba (perto de Curralinho), hoje cidade Castro Alves, no Estado da Baía (Brasil).
Filho de um médico, mudou-se para Salvador com a família, em 1854, porque o pai passou a lecionar na Faculdade de Medicina de Salvador. Depois, foi estudar para o Rio de Janeiro, no Colégio Abílio César Borges, onde demonstrou talento para a poesia e, aos 17 anos, partiu para o Recife para estudar Direito.
Participou na vida literária e estudantil e começou a escrever poesias líricas e de carácter social. Conheceu a atriz portuguesa Eugénia Câmara (dez anos mais velha) para quem escreveu o drama Gonzaga ou a Revolução de Minas (publicado em 1875) que ela representou. Abandonado pela amante, Castro Alves levou uma vida boémia e intensa no Rio de Janeiro, onde conheceu José de Alencar e Machado de Assis que o introduziram no meio literário.
Durante uma caçada, feriu-se acidentalmente num pé, com um tiro de espingarda, sendo amputado, em 1869, no Rio de Janeiro. Em consequência, passou a andar com um pé de borracha e com uma bengala de apoio. Em 1870, sofrendo de tuberculose, regressou à Baía, procurando melhorar a sua saúde. Aí, publicou o seu primeiro livro Espumas Flutuantes, o único publicado em vida. Apaixonou-se pela cantora lírica italiana Agnese Trinci Murri, em 1871.
A 6 de julho de 1871, não resistindo à doença, morreu no Estado de Baía, aos 24 anos. Patrono da cadeira n.º 7 da Academia Brasileira de Letras, Castro Alves escreveu ainda outras obras, como A cachoeira de Paulo Afonso (1876), Os Escravos (1883) e Manuscritos de Stênio (1883) e Obras Completas (1921), em que parafraseia ou traduz Byron, Lamartine e Musset.
Poeta da 3.ª geração do Romantismo brasileiro, conhecida como Condoreira, Castro Alves apresenta duas vertentes distintas na sua poesia. Por um lado, uma vertente lírico-amorosa, onde o amor e a mulher passam a ser concretos e reais; o tema da morte deixa de ser uma fuga e torna-se num obstáculo à realização dos desejos do poeta; a exaltação da natureza é constante, sobretudo na referência a grandes aves, como a águia e o condor (símbolo da Condoreira). Por outro, uma vertente social, influenciada pelo francês Victor Hugo. Apologista do movimento abolicionista e da causa republicana, escreveu em defesa da abolição da escravatura, o que lhe rendeu o título de "Poeta dos escravos". (Daqui)
 
 

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