quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

"Palavras de um avestruz todo gris" - Poema de António Botto




Palavras de um avestruz todo gris


Arrancam-me as penas
E eu sofro sem dizer nada:
- Sou ave
Bem educada.

E, se quisesse,
Podia
Morder-lhes as mãos morenas,
A esses
Que sem piedade
Me roubam as penas que me cobrem;

E, no entanto,
Sem o mais breve gemido,
O meu corpo
Vai ficando
Desguarnecido ...

E elas,
Aquelas
Que se enfeitam, doidamente,
Com estas penas formosas
- Que são minhas!
Passam por mim, desdenhosas,
Em gargalhadas mesquinhas.

Sim; eu sofro sem dizer nada:
- Sou ave
Bem educada.

Mesmo que fosse pequena
E eu te visse pobre ou nua
- Ninguém ama a sua Pátria por ser grande,
Mas sim por ser sua!




António Tomás Botto (Concavada, Abrantes, 17 de Agosto de 1897 — Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959) foi um poeta português. 
A sua obra mais conhecida, e também a mais polémica, é o livro de poesia Canções que, pelo seu carácter abertamente homossexual, causou grande agitação nos meios religiosamente conservadores da época. Foi amigo pessoal de Fernando Pessoa que traduziu em 1930 as suas Canções para o inglês, e com quem colaborou numa Antologia de Poemas Portugueses Modernos. Homossexual assumido (apesar de ser casado com Carminda Silva), a sua obra reflete muito da sua orientação sexual e no seu conjunto será, provavelmente, o mais distinto conjunto de poesia homoerótica de língua portuguesa. Morreu atropelado em 1959 no Brasil, para onde se tinha exilado para fugir às perseguições homófobas de que foi vítima, na mais dolorosa miséria. Os seus restos mortais foram trasladados para o cemitério do Alto de São João, em Lisboa, em 1966. (Fonte: wikipédia)


Macho (esquerda) e fêmea de avestruz


"Ah, que maldade introduzir carne em nossa própria carne, engordar nossos corpos glutões empanzinando-nos com outros corpos, alimentar uma criatura viva com a morte de outra! No meio de tanta riqueza que a terra, a melhor das mães provê, nada, na verdade, te satisfaz, a não ser o comportamento dos ciclopes, que infligem dolorosos ferimentos com seus dentes cruéis! Não podes apaziguar o desejo faminto de teu estômago cruel e glutão exceto destruindo outras vidas. Enquanto o homem continuar a destruir impiedosamente os seres vivos inferiores não conhecerá a saúde e a paz. Pois enquanto os homens massacrarem os animais, a humanidade continuará matando a humanidade. Realmente, aquele que semeia morte e dor não pode colher alegria e amor." - Ovídio
 
 
Públio Ovídio 

Públio Ovídio Naso, conhecido como Ovídio nos países de língua portuguesa (Sulmona, 20 de março de 43 a.C. — Constança, Romênia, 17 ou 18 d.C.) foi um poeta romano que é mais conhecido como o autor de Heroides, Amores, e Ars Amatoria, três grandes coleções de poesia erótica, Metamorfoses, um poema hexâmetro mitológico, Fastos, sobre o calendário romano, e Tristia e Epistulae ex Ponto, duas coletâneas de poemas escritos no exílio, no mar Negro.

Ovídio foi também o autor de várias peças menores, Remedia Amoris, Medicamina Faciei Femineae, e Íbis, um longo poema sobre maldição. Também é autor de uma tragédia perdida, Medeia. É considerado um mestre do dístico elegíaco e é tradicionalmente colocado ao lado de Virgílio e Horácio como um dos três poetas canônicos da literatura latina. O estudioso Quintiliano considerava-o o último dos elegistas amorosos latinos canônicos. Sua poesia, muito imitada durante a Antiguidade tardia e a Idade Média, influenciou decisivamente a arte e a literatura europeias, particularmente Dante, Shakespeare e Milton, e permanece como uma das fontes mais importantes de mitologia clássica. Seu estilo tem caráter jocoso e inteiramente pessoal — às vezes o eu-lírico de seus poemas são o próprio Ovídio.

Escreveu sobre amor, sedução, exílio e mitologia. Estudou retórica com grandes mestres de Roma e viajou para Atenas e Ásia exercendo funções públicas com o objetivo de tornar-se um Cícero, mas, para desgosto do pai, resolveu dedicar sua vida à poesia. (Daqui)


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