terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

"Volta de Passeio" - Poema de Federico Garcia Lorca


  Frida Kahlo, ‘El Camion’ (1929)
 


Volta de Passeio


Assassinado pelo céu, 
entre as formas que vão para a serpente 
e as formas que buscam o cristal, 
deixarei crescer meus cabelos.

Com a árvore de tocos que não canta 
e o menino com o branco rosto de ovo.

Com os animaizinhos de cabeça rota 
e a água esfarrapada dos pés secos.

Com tudo o que tem cansaço surdo-mudo 
e mariposa afogada no tinteiro.

Tropeçando com meu rosto diferente de cada dia. 
Asassinado pelo céu!


Federico Garcia Lorca
(tradução: William Agel de Melo) 


Frida Kahlo 


Pintora mexicana, Magdalena Carmen Frieda Kahlo nasceu no dia 6 de julho de 1907 em Coyoacàn, um subúrbio na Cidade do México, e morreu a 13 de julho de 1954. Filha, com mais três irmãs, de Matilde Calderón e do famoso fotógrafo Guillermo Kahlo, Frida insistia em dizer ter nascido em 1910, o ano do início da Revolução Mexicana. Este dado é revelador da sua necessidade em se vincular a um momento histórico tão significativo para o México e, portanto, para ela própria. Acreditava, assim, que ela e o Novo México haviam nascido ao mesmo tempo. Tal desejo expressa uma posição nacionalista, assim como também reflete a necessidade de se inserir num contexto de glória, no qual o povo mexicano, por meio de um processo revolucionário, procurou as transformações que deveriam tornar aquela sociedade mais justa e igual. Kahlo usou esse caminho para mergulhar na problemática nacional e nela própria, retratando fêmeas que sofreram e sofrem, numa dupla visão da própria artista.

A sua vida inteira foi atormentada pelo sofrimento. Foi atacada por uma grave doença, poliomielite, aos 6 anos, o que fez com que a sua perna esquerda ficasse mais curta que a direita, dando azo a ser gozada pelas outras crianças. A jovem Frida, que mostrava já um forte carácter, decidiu que iria ser médica, o que, na altura, não era uma profissão muito comum para uma mulher. Mas com 15 anos mais um acontecimento trágico ocorreu na sua vida, alterando-a para sempre. Em 1925, quando regressava da escola, um comboio colidiu com o autocarro em que seguia. Foi encontrada quase sem vida, com o corpo totalmente dilacerado: coluna, bacia, perna e pé direito partidos. E foi no hospital, enquanto recuperava, que começou a pintar. Apesar de a família ter sacrificado quase tudo o que possuía de forma a possibilitar-lhe o melhor tratamento possível, ela nunca recuperou totalmente. Frida decidiu, então, abandonar a ideia de ser médica para continuar a pintar. O acidente mudou não só o curso da sua vida como lhe serviu de inspiração para a sua arte, que era maioritariamente composta por auto-retratos perturbantes, com imagens de morte e sofrimento.

Em 21 de agosto de 1929, Frida casou com Diego Rivera, um famoso pintor de murais, passando a morar em diversos países, entre os quais os Estados Unidos da América, onde o seu marido era convidado a pintar. A sua passagem por outros países deu-lhe material para a produção de obras que refletiam a relação do México com o estrangeiro, especialmente com os Estados Unidos, pois a proximidade física, os problemas de limites e fronteiras, bem como a própria relação com o imperialismo levaram-na a produzir usando esta temática.

Ela e o marido combinavam em muitos aspetos. Antes de mais, na arte, depois nos ideais do comunismo, e ainda no interesse comum pela cultura tradicional dos índios mexicanos. Mas o seu conturbado casamento, a sequência de infidelidades do marido e as separações fizeram com que a vida e obra de Kahlo se confundissem com a vida e obra de Rivera. Por muito tempo pensava-se que ela fosse um apêndice dele, que não tivesse uma existência própria, o que foi sempre reforçado pelas declarações de Kahlo sobre a sua dedicação e sobre se considerar uma seguidora dele. 

A fragilidade da sua saúde levou-a a hospitalizar-se inúmeras vezes para tratar de problemas isolados, assim como para tratar sequelas dos problemas físicos preexistentes. Um aborto espontaneo conduziu-a ao hospital, em Detroit (1932), pondo fim à esperança de ter um filho, facto que se tornou uma temática frequente em sua obra. Em alguns auto-retratos incluía o seu macaco-aranha de estimação como um filho substituto, representando-o como o ícone de Cristo quando criança. Algumas das suas pinturas eram bastante sanguinárias, mostrando órgãos esventrados, podendo-se estabelecer, mais uma vez, comparações com Cristo e a imagem do Sagrado Coração.

Além do seu envolvimento político e intelectual, Frida também desempenhava a função de professora na Escola de Artes La Esmeralda. 

Apesar de Rivera ter sido um instrumento precioso no seu sucesso, ele considerava-a uma igual, e, apesar de lhe ter sido infiel, nunca foi desleal. Rivera tinha amantes mas Frida também, como, por exempo, o escritor Leon Trotsky a quem o casal tinha oferecido asilo. Frida e Diego divorciaram-se em 1939 mas voltaram a casar logo no ano seguinte, chegando à conclusão de que a sua paixão era mais forte do que as simples necessidades físicas e de que a sua relação poderia resultar se aprendessem a controlar os seus temperamentos. 

Frida era admirada, não apenas pelo seu marido, mas por artistas e críticos espalhados por todo o Mundo. O surrealista francês André Breton teve um papel fundamental no reconhecimento americano da obra de Frida. Mas apesar de agradecer o respeito de Breton, rapidamente negou qualquer envolvimento no movimento surrealista dizendo: "Nunca pintei os meus sonhos. Pintei apenas a minha realidade". E a sua realidade era de paixão e de sofrimento. Em 1953, a sua perna foi amputada e no ano seguinte foi novamente hospitalizada por dois meses, para se recuperar de uma broncopneumonia, morrendo na madrugada do dia 13 de julho. Existe alguma especulação em redor da sua morte, surgindo a ideia de que ela se terá suicidado pondo um fim à sua vida de sofrimento. Frida Kahlo foi a primeira mulher latino americana a vender um quadro por um milhão de dólares.

Frida Kahlo. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-02-07].
 


Frida Kahlo, Autorretrato con chango y loro (1942) 


Frida Kahlo, El abrazo de amor de El Universo, la tierra (México), 
Yo, Diego y el señor Xólotl, 1949
 

"Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei minha própria realidade". - Frida Kahlo


Frida Kahlo, Raízes, 1943


"Surrealismo é a surpresa mágica de encontrar um leão num guarda-roupa, onde tínhamos a certeza que encontraríamos camisas." - Frida Kahlo
 
 

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