sexta-feira, 30 de março de 2012

"Poema do Homem Só" - António Gedeão


Edward Hopper, Solitary Figure in a Theater, 1902-1904 
 

Poema do Homem Só


Sós, 
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós 
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam. 
Todos se desconhecem. 
Os astros nada explicam: 
Arrefecem 
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nenhum ser nós se transmite. 
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém. 
Quem estremece este meu estremecimento 
sou eu só, e mais ninguém. 
Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos 
dão-se em pasmados compassos; 
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas, 
abrem-se e dão-se as corolas 
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota, 
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica. 
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo, 
este ser-se sem disfarce, 
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se, 
descobrir-se, e desflorar-se, 
é nosso e de mais ninguém. 


António Gedeão
[Rómulo de Carvalho (pseudónimo António Gedeão)]


Obras de Edward Hopper
Edward Hopper, Pennsylvania coal town

Edward Hopper

Edward Hopper, Table for Ladies

Edward Hopper

Edward Hopper, Rooftops (1926)

Edward Hopper, Chop Suey

Edward Hopper, Four Lane Road 

Edward Hopper, First row orchestra


"O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica."



Edward Hopper, Summertime


Os covardes nunca tentam, os fracassados nunca terminam, os vencedores nunca desistem." 



Edward Hopper, Summer Evening, 1947


"O pensamento positivo pode vir naturalmente, mas também pode ser aprendido e cultivado, mude os seus pensamentos e mudará o seu mundo." 


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