terça-feira, 15 de maio de 2012

"Lisboa" - Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen


Cidade de  Lisboa, Portugal


Lisboa 


Digo: "Lisboa" 
Quando atravesso - vinda do sul - o rio 
E a cidade a que chego abre-se como se do meu nome nascesse 
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna 
Em seu longo luzir de azul e rio 
Em seu corpo amontoado de colinas - 
Vejo-a melhor porque a digo 
Tudo se mostra melhor porque digo 
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência 
Porque digo 
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser 
Com seus meandros de espanto insónia e lata 
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro 
Seu conivente sorrir de intriga e máscara 
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata 
Lisboa oscilando como uma grande barca 
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência 
Digo o nome da cidade 
- Digo para ver. 


 in Obra Poética, 2011


e um típico exemplo do estilo manuelino.


A Torre de Belém é um dos monumentos mais expressivos da cidade de Lisboa. Localiza-se na margem direita do rio Tejo, onde existiu outrora a praia de Belém. Inicialmente cercada pelas águas em todo o seu perímetro, progressivamente foi envolvida pela praia, até se incorporar hoje à terra firme. 
O monumento  destaca-se pelo nacionalismo implícito, visto que é todo rodeado por decorações do Brasão de armas de Portugal, incluindo inscrições de cruzes da Ordem de Cristo nas janelas de baluarte; tais características remetem principalmente à arquitetura típica de uma época em que o país era uma potência global (a do início da Idade Moderna).


Torre de Belém - Lisboa


Classificada como Património Mundial pela UNESCO desde 1983, foi eleita como uma das Sete maravilhas de Portugal em 7 de julho de 2007.
Originalmente sob a invocação de São Vicente de Saragoça, padroeiro da cidade de Lisboa, designada no século XVI pelo nome de Baluarte de São Vicente a par de Belém e por Baluarte do Restelo, esta fortificação integrava o plano defensivo da barra do rio Tejo projetado à época de João II de Portugal (1481-95), integrado na margem direita do rio pelo Baluarte de Cascais e, na esquerda, pelo Baluarte da Caparica
O cronista Garcia de Resende foi o autor do seu risco inicial, tendo registado: "E assim mandou fazer então a (...) torre e baluarte de Caparica, defronte de Belém, em que estava muita e grande artilharia; e tinha ordenado de fazer uma forte fortaleza onde ora está a formosa torre de Belém, que el-Rei D. Manuel, que santa glória haja, mandou fazer; para que a fortaleza de uma parte e a torre da outra tolhessem a entrada do rio. A qual fortaleza eu por seu mandado debuxei, e com ele ordenei a sua vontade; e tinha já dada a capitania dela [a] Álvaro da Cunha, seu estribeiro-mor, e pessoa de que muito confiava; e porque el-Rei João faleceu, não houve tempo para se fazer" (RESENDE, Garcia de. Crónica de D. João II, 1545.), 
A estrutura só viria a ser iniciada em 1514, sob o reinado de Manuel I de Portugal (1495-1521), tendo como arquitecto Francisco de Arruda. Localizava-se sobre um afloramento rochoso nas águas do rio, fronteiro à antiga praia de Belém, e destinava-se a substituir a antiga nau artilhada, ancorada naquele trecho, de onde partiam as frotas para as Índias. As suas obras ficaram a cargo de Diogo Boitaca, que, à época, também dirigia as já adiantadas obras do vizinho Mosteiro dos Jerónimos
Concluída em 1520, foi seu primeiro alcaide Gaspar de Paiva, nomeado para a função no ano seguinte. 
Com a evolução dos meios de ataque e defesa, a estrutura foi, gradualmente, perdendo a sua função defensiva original. Ao longo dos séculos foi utilizada como registo aduaneiro, posto de sinalização telegráfico e farol. Os seus paióis foram utilizados como masmorras para presos políticos durante o reinado de Filipe II de Espanha (1580-1598), e, mais tarde, por João IV de Portugal (1640-1656). O Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, D. Sebastião de Matos de Noronha (1586-1641), por coligação à Espanha e fazendo frente a D. João IV, foi preso e mandado recluso para a Torre de Belém. 
Sofreu várias reformas ao longo dos séculos, principalmente a do século XVIII que privilegiou as ameias, o varandim do baluarte, o nicho da Virgem, voltado para o rio, e o claustrim
Classificada como Monumento Nacional por Decreto de 10 de Janeiro de 1907, é considerada como Património Mundial pela UNESCO desde 1983. Naquele mesmo ano integrou a XVII Exposição Europeia de Arte Ciência e Cultura.


Torre de Belém - Lisboa


O monumento reflete influências islâmicas e orientais, que caracterizam o estilo manuelino e marca o fim da tradição medieval das torres de menagem, ensaiando um dos primeiros baluartes para artilharia no país. 
Parte da sua beleza reside na decoração exterior, adornada com cordas e nós esculpidas em pedra, galerias abertas, torres de vigia no estilo mourisco e ameias em forma de escudos decoradas com esferas armilares, a cruz da Ordem de Cristo e elementos naturalistas, como um rinoceronte, alusivos às navegações. O interior gótico, por baixo do terraço, que serviu como armaria e prisão, é muito austero. 
A sua estrutura compõe-se de dois elementos principais: a torre e o baluarte. Nos ângulos do terraço da torre e do baluarte, sobressaem guaritas cilíndricas coroadas por cúpulas de gomos, ricamente decorada em cantaria de pedra. 
A torre quadrangular, de tradição medieval, eleva-se em cinco pavimentos acima do baluarte, a saber: 

Primeiro pavimento - Sala do Governador. 
Segundo pavimento - Sala dos Reis, com teto elíptico e fogão ornamentado com meias-esferas. 
Terceiro pavimento - Sala de Audiências 
Quarto pavimento - Capela 
Quinto pavimento - Terraço da torre 

A nave do baluarte poligonal, ventilada por um claustrim, abre 16 canhoneiras para tiro rasante de artilharia. O terrapleno, guarnecido por ameias, constitui uma segunda linha de fogo, nele se localizando o santuário de Nossa Senhora do Bom Sucesso com o Menino, também conhecida como a Virgem do Restelo. (Daqui)




FALAR / DIZER POESIA


Tenho para mim que ler poesia com a voz não pode ser nunca só conhecê-la e dá-la a conhecer.
Ler poesia é torná-la nossa, que a voz, tanto como os olhos, quer se queira quer não, é espelho da alma.
Ler poesia é como representar, é inventar quem fala, é reinventar um poeta e recriar o momento de escrever.
Por isso é importante escolher o que se lê, não ler qualquer coisa, amar o que se diz, decidir que palavras vão passar a fazer parte de nós e serão daí em diante também nossa memória e nos irão ajudar também a escrever e a ler novas palavras, a estar com os outros.

 Luís Miguel Cintra 


Luís Miguel Cintra


Luís Miguel Cintra
é um ator e encenador português nascido a 29 de abril de 1949, em Madrid, filho do linguista Luís Filipe Lindley Cintra.

Obteve o bacharelato em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa. Estreou-se num grupo de teatro amador, por ele fundado, em 1967. Com uma bolsa de estudo, frequentou a Escola de Teatro Bristol Old Vic entre 1971 e 1973, ano em que fundou, com Jorge Silva Melo, o Teatro da Cornucópia, onde se afirmou como ator e encenador em diversas peças, nomeadamente O Misantropo, Terror e Miséria do III Reich e Pequenos Burgueses.

No cinema, participou em filmes como Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço (1970), Silvestre (1982) e Recordações da Casa Amarela (1989), de João César Monteiro, A Pousada das Chagas (1971), A Ilha dos Amores (1983), Três Irmãos (1994) e The Dancer Upstairs (Em Clandestinidade, 2002) de John Malkovich. Foi presença regular nos filmes de Manoel de Oliveira, tendo participado em Le Soulier de Satin (O Sapato de Cetim, 1985), Os Canibais (1988), Non ou a Vã Glória de Mandar (1990), O Dia do Desespero (1992), Vale Abraão (1993), A Caixa (1994), O Convento (1995), A Carta (1999), Palavra e Utopia (2000) e Um Filme Falado (2003).

Em janeiro de 2005 foi distinguido, juntamente com o historiador António Hespanha, com o Prémio da Universidade de Coimbra, e, em dezembro desse mesmo ano, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa. (Daqui)

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