domingo, 1 de julho de 2012

"Anjo caído" - Poema de Bulhão Pato


Nadir Afonso, A Cidade Longínqua



Anjo caído 


Na flor da vida, formosa,
ingénua, casta, inocente,
eras tu no mundo, rosa!
Quem te arrojou de repente
para o abismo fatal?
Viste um dia o sol de abril;
o teu seio virginal
sorriu alegre e gentil.

Ergueu-se aos clarões suaves
d'aquela doce alvorada
a tua face encantada.
Amaste o doce gorjeio
que desprendiam as aves,
e no teu cândido seio
quanto amor, quanta ilusão
alegre pulava então.

Mal haja o fatal destino,
maldita a sinistra mão,
que em teu cálix purpurino
derramou fera e brutal
esse veneno fatal.

Hoje és bela; mas teu rosto
que outrora alegre sorria,
é todo melancolia!
Hoje nem sol, nem estrela,
para ti brilha no céu;
mal haja quem te perdeu!


Bulhão Pato
(1829 - 1912)


Retrato de Bulhão Pato (1883), por Columbano Bordalo Pinheiro


Poeta português, Raimundo António de Bulhão Pato nasceu a 3 de março de 1829, em Bilbau, Espanha, e faleceu em 1912. Filho de portugueses (o seu pai era fidalgo e poeta), teve uma infância difícil, vivendo constantemente rodeado de dificuldades decorrentes da guerra carlista. Já na adolescência, a guerra civil espanhola obriga a família a vir para Lisboa, onde Bulhão Pato frequenta a Escola Politécnica. Por essa altura começou a conviver também com algumas das personalidades literárias mais importantes da época, como Latino Coelho, Andrade Corvo, Rebelo da Silva, Almeida Garrett, Gomes de Amorim e Alexandre Herculano, entre outros. Essa convivência viria a ser de extrema importância para o consolidar dos seus conhecimentos. Colaborou em periódicos como O Panorama, a Revista Universal Lisbonense, a Revista Peninsular e A Semana. Traduz Shakespeare, Bernardin de Saint-Pierre e Vítor Hugo.

Considerado um poeta apaixonado, influenciado pelos valores do Ultrarromantismo que o envolveu durante a sua infância e adolescência (sobretudo em Poesias e Versos, de 1850 e 1862), influenciado por Lamartine e Byron, torna-se célebre com o poema narrativo Paquita, sucessivamente reeditado até 1894, e amplamente reconhecido por Alexandre Herculano e Rebelo da Silva.

É também autor de quatro livros de memórias, escritos num tom íntimo e nostálgico, interessantes pelas informações biográficas e históricas que fornecem. O seu estatuto de derradeiro representante de um Romantismo sentimental ultrapassado, a que as facetas de caçador e de gastrónomo (é seu o livro de receitas O cozinheiro dos cozinheiros, de 1870) conferiam contornos de certa forma castiços, teria, ao que parece, servido de inspiração a Eça de Queirós na composição da figura do poeta Tomás de Alencar, em Os Maias (1888).

Bulhão Pato. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-07-01].
 

Nadir Afonso, Rio Cávado


Nadir Afonso, Immeubles de Patin


Nadir Afonso, Le Grand Canal


Nadir Afonso, Chicago


Nadir Afonso, Apolo


Nadir Afonso, Demogordon


Nadir Afonso, Composição Irisada


Nadir Afonso, Sem título
 

Nadir Afonso, Composição Geométrica
 



Arquiteto e pintor português, Nadir Afonso Rodrigues nasceu a 4 de dezembro de 1920, em Chaves. Com 17 anos de idade matriculou-se em Arquitetura, na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, onde acabou por se diplomar. Ainda como aluno daquela Escola, começou a expor os seus trabalhos e, até 1946, fez parte do conjunto de artistas que expunham no "Grupo dos Independentes". Adepto do paisagismo matérico, quase expressionista, onde o Norte de Portugal é o tema dominante, o pequeno óleo de 1945, Vasilhas, anunciava já o abstracionismo geométrico a que aderiu por influência de Fernando Lanhas. Com Composição Irisada (1946) procurou obter uma síntese entre o surrealismo e o abstracionismo.

Em 1946 viajou para França onde, na École des Beaux-Arts de Paris, estudou pintura e obteve do governo francês, por intermédio de Cândido Portinari, uma bolsa de estudo. Foi, posteriormente, colaborador do arquiteto Le Corbusier, nomeadamente no projeto da cidade de Marselha (Cité Radieuse), e utilizou durante algum tempo o atelier de Fernand Léger. Em 1952 partiu para o Brasil, onde colaborou com o arquiteto Óscar Niemeyer e em 1954 regressou a Paris, retomando, na Galeria Denise René, o contacto com artistas orientados na procura da arte cinética como, por exempo, Vasarely, Herbin e Mortensen. A pesquisa do sentido do ritmo e a tentativa de recriar o movimento real levou-o a pintar quadros "cinéticos", frequentemente intitulados "Espacilimitado" (Espacillimité), chegando mesmo a expô-los no Salon des Réalités Nouvelles (1958). No início dos anos 60, regressado a Portugal, a sua geometria passou a sugerir espaços, geralmente citadinos. Por volta de 1965, Nadir Afonso abandona definitivamente a Arquitetura e, tomando consciência da sua falta de adaptação ao meio artístico português, isola-se, dedicando-se integralmente à criação.

Uma característica do seu trabalho é o remanuseamento das obras, que vai alterando ao longo dos anos com o seu amadurecimento teórico. As várias fases de alguns trabalhos estão fixadas no seu livro Les Mécanismes de La Création Artistique, publicado em 1970. Nadir procura, acima de tudo, "a pura harmonia", utilizando cores puras, que organiza em formas decorativas ou sequências geométricas sugerindo um ritmo ou efeitos óticos.

A sua obra tem vindo a ser merecedora de inúmeros prémios e distinções, nomeadamente o Prémio Nacional de Pintura (1967), a representação de Portugal na Bienal de S. Paulo (1969), o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso (1969), a atribuição da medalha de ouro da cidade de Chaves e sessões de homenagem, quer na Bienal de Cerveira (2003) quer na 2.ª Feira de Arte Contemporânea do Estoril (2004). Em 1993, foi realizado, sobre Nadir Afonso, um filme de Jorge Campos para a Radiotelevisão Portuguesa. O artista envolveu-se, juntamente com Lagoa Henriques, no projeto de painéis para o Metropolitano de Lisboa com São Sebastião e encontra-se representado em museus de cidades do mundo como Lisboa, Porto, Amarante, Rio de Janeiro, S. Paulo, Budapeste, Paris, Wurzburg e Berlim. Nadir Afonso é membro da Ordem Militar Santiago de Espada e da Academia Nacional de Belas-Artes.

Obras publicadas:

1958, La Sensibilité Plastique, Press du Temps Present, Paris
1970, Les Mécanismes de La Création Artistique, Editions du Griffon, Neuchâtel, Suíça
1974, Aesthetic Synthesis, Edições Alvarez em colaboração com Selected Artists Galleries de Nova Iorque
1983, Le Sens de l'Art, Imprensa Nacional, Lisboa
1986, Monografia Nadir Afonso, Bertrand Editora, Lisboa
1990, Da Vida à Obra de Nadir Afonso, Bertrand Editora, Lisboa
1994, Monografia Nadir Afonso, Bial, Porto
1998, Monografia Nadir Afonso, Livros Horizonte, Lisboa
1999, O Sentido da Arte, Livros Horizonte
1999, Nadir Afonso - Obra gravada, Edições Coelho Dias, Lisboa
2000, Universo e o Pensamento, Livros Horizonte, Lisboa
2000, O Porto de Nadir, Edições Coelho Dias, Lisboa
2002, Sobre a Vida e Sobre a Obra de Van Gogh, Chaves Ferreira Publicações, Lisboa
2003, O Fascínio das Cidades, Câmara Municipal de Cascais
2003, Da Intuição Artística ao Raciocínio Estético, Chaves Ferreira Publicações, Lisboa
2008, Nadir Face a Face com Einstein. Chaves Ferreira Publicações, Lisboa (edição bilingue: português e inglês)
2009, Nadir Afonso: Itinerário (com)sentido. Coordenação Agostinho Santos Edições Afrontamento, Porto (edição trilingue: português, espanhol e inglês)
2010, Manifesto: O Tempo não Existe. Dinalivro, Lisboa (edição bilíngue: português e inglês)
2010, O Universo e Pensamento. Edições Afrontamento, Lisboa

Nadir Afonso. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-07-01].


Nadir Afonso, Vila Nova de Gaia 


“A obra de arte não é um jogo de significações no objeto, é um jogo de leis nos espaços.” 

(Nadir Afonso)


Primeiros trabalhos de Nadir Afonso, Praça dos Aliados, óleo sobre tela 


“As leis da matemática são a essência das obras de arte.”

(Nadir Afonso)


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