quarta-feira, 25 de julho de 2012

"Brasil" - Poema de João Cabral do Nascimento


Johann Hamza (Pintor austríaco, 1850-1927) 
 
 

Brasil 


Fosse eu pintor ou músico
(Pobre de sons, embora! Pálido de cor, que importa!)
Sempre haveria alguém que me entendesse
Em qualquer canto incógnito do Mundo.
Sempre haveria alguém que me dissesse:
- Músico, vem! Entra, pintor! – e abrir-me-ia a porta. 

Mas da palavra eu fiz a minha ferramenta.
Sim, da palavra, como os loucos.
E quanto sinto e penso unicamente o digo em português,
Quase em silêncio, porque somos poucos.
Quase em família. E só por uma vez 

Brasil, que bom saber
Que tu também, se por acaso, entre o rumor do mar,
A minha voz escutas, poderás dizer:
- Compreendi-te, irmão. Torna a falar.


João Cabral do Nascimento 


Retrato de João Cabral do Nascimento por Abel Manta


João Cabral do Nascimento foi um escritor português nascido a 22 de março de 1897, no Funchal, e falecido a 2 de março de 1978, em Lisboa. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi professor do ensino técnico-profissional e diretor do Arquivo Histórico da Ilha da Madeira. Cofundador de Ícaro, colaborou nas revistas Cadernos de Poesia, Litoral, Távola Redonda, Tempo Presente, entre outras. Para David Mourão-Ferreira, "ninguém representa, como Cabral do Nascimento, o lirismo na sua forma mais pura, mais decantada, mais liberta de todos os compromissos e de todos os hibridismos". (MOURÃO-FERREIRA, David - Vinte Poetas Contemporâneos, Lisboa, Ática, 1980, p. 35). Os temas da angústia ante a fugacidade do tempo, da melancolia, da solidão, aliados a uma mestria formal ímpar, quer em verso livre quer em esquemas métricos e versificatórios tradicionais, conferem ao autor de Cancioneiro um lugar singular na modernidade, filiando-o, segundo Mourão-Ferreira, na linhagem parnasiana e simbolista: "Apto, como muito poucos, para descrever plasticamente o real exterior (objetivo central do poeta parnasiano), Cabral do Nascimento tende, no entanto, pelo seu simbolismo igualmente congénito, a estrangular esse pendor descritivo e a descobrir, para além das coisas, os símbolos que elas contêm" (id. ibi., p. 38).

João Cabral do Nascimento. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-07-24]



Obras de Johann Hamza
Johann Hamza, O bibliófilo

Johann Hamza, Um fã de decoração

Johann Hamza, Casamento

Johann Hamza

Johann Hamza

Johann Hamza

Johann Hamza

Johann Hamza

Johann Hamza

Johann Hamza

Johann Hamza

Johann Hamza

Johann Hamza


"Bem vindo é o sono, mais bem vindo o sono de pedra
Enquanto crime e vergonha continuam na terra;
Minha feliz sorte, não ver ou ouvir;
Não me acordem - por piedade, sussurrem baixo."


Citado em "Michelangelo: a collection of fifteen pictures and a portrait of the master" - página 84, Estelle May Hurll - Houghton, Mifflin and Company, 1900 - 96 páginas


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