domingo, 13 de janeiro de 2013

"Humano peso" - Poema de Carlos Nejar


Federico Zandomeneghi (Italy, 1841-1917), The Red Roof



Humano peso

 
Os sonhos não os têm só quem navega
ou tenta navegar no vento aceso,
mas quem por  entre abismos fica ileso
como se flutuasse numa verga

e as âncoras baixassem na tristeza
ou tristes conduzíssemos o peso,
mais a desolução da carne, a intensa
gravidade das coisas, homem preso

ao mínimo das águas, desatento
aos astros, aos planetas e se alterna
mas é somente febre disparada.

O sonho, o frágil corpo, os elementos
navegam as mudanças subalternas
e os nadas de espuma, em puro nada.


Carlos Nejar
, in “Amar, a mais alta constelação”.
Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1991.



Galeria de Federico Zandomeneghi
Federico Zandomeneghi 


Federico Zandomeneghi (Veneza, 2 de junho de 1841 — Paris, 31 de dezembro de 1917) é um dos poucos pintores italianos que aderiram às ideias e técnicas do impressionismo. Nascido em Veneza, começou a pintar na oficina do pai, que era escultor. Depois juntou-se ao grupo dos Macchiaioli. Resolveu então trabalhar sozinho e ficou durante oito anos em sua cidade natal, mudando-se depois para Paris. Lá conheceu Edgar Degas, que influenciou profundamente sua pintura. Seu estilo transformou-se definitivamente, ao adotar as formas impressionistas.
Os temas mais frequentes de seus quadros são as cenas ao ar livre e os retratos femininos, num estilo muito semelhante ao de seu amigo Degas.


Federico Zandomeneghi, Casetta a Montmartre


Federico Zandomeneghi, Le Moulin de la Galette, 1878 


 Federico Zandomeneghi, Place du Tertre a Parigi, 1880


Federico Zandomeneghi, La Strada.


Federico Zandomeneghi, Palazzo Pretorio


Federico Zandomeneghi, Moulin de la Galette, 1878


Federico Zandomeneghi, I poveri sui gradini dell'Aracoeli in Roma 
(Impressionni di Roma) 1872 г.


Federico Zandomeneghi, Place d'Anvers, Paris


Federico Zandomeneghi, Parc Monceau


Federico Zandomeneghi, Terrazzasul Boulevard


Federico Zandomeneghi, Il Café de la Nouvelle Athènes


Federico Zandomeneghi, At the Theater


Federico Zandomeneghi, Il tè


Federico Zandomeneghi, Nature morte, pommes
 
 

Os Portugueses


“Que o português médio conhece mal a sua terra – inclusive aquela que habita e tem por sua em sentido próprio – é um facto que releva de um mais genérico comportamento nacional, o de viver mais a sua existência do que compreendê-la.”

“Citar um autor nacional, um contemporâneo, um amigo ou inimigo, porque nele se aprendeu ou nos revimos com entusiasmo, é, entre nós, uma raridade ou uma excentricidade como usar capote alentejano. A referência nobre é a estrangeira por mais banal que seja, e quem se poderá considerar isento de um reflexo que é, por assim dizer, nacional?”

“Os Portugueses vivem em permanente representação, tão obsessivo é neles o sentimento de fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou colectivo.”

“Mas seja qual for a interpretação ideológica de Camões, não é possível, para ninguém, separar o seu canto épico da apologia histórica de um povo enquanto vanguarda de uma fé ameaçada na Europa do tempo e de um império igualmente guarda-avançada da expressão comercial e guerreira do Ocidente. É essa a «matéria» textual e moral do Poema.”

“Em princípio, todo o português que sabe ler e escrever se acha apto para tudo, e o que é mais espantoso é que ninguém se espante com isso.” 


Eduardo Lourenço, O Labirinto da Saudade, Gradiva, 2005.

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