segunda-feira, 28 de julho de 2014

"Renúncia" - Poema de Virgínia Vitorino


Sir Oswald Hornby Joseph Birley (English portrait painter, 1880 - 1952)
Miss Muriel Gore in a fortuny dress, 1919



Renúncia


Fui nova, mas fui triste; só eu sei
como passou por mim a mocidade!
Cantar era o dever da minha idade…
Devia ter cantado, e não cantei!

Fui bela. Fui amada. E desprezei…
Não quis beber o filtro da ansiedade.
Amar era o destino, a claridade…
Devia ter amado, e não amei!

Ai de mim! Nem saudades, nem desejos;
nem cinzas mortas, nem calor de beijos…
— Eu nada soube, nada quis prender!

E o que me resta? Uma amargura infinda:
ver que é, para morrer, tão cedo ainda,
e que é tão tarde já para viver!


Virgínia Vitorino




Virgínia Vitorino
[Alcobaça, 1895 -
Lisboa 1967] 


Poetisa e autora teatral, a sua estreia literária verificou-se em 1921, com um livro de sonetos de inspiração e fatura românticas, Namorados, que conheceu um fulgurante êxito comercial, traduzido em 14 eds. consecutivas, e a que se seguiram dois outros livros de versos de idênticas características, Apaixonadamente, em 1923, e Renúncia, em 1926.
Para o teatro escreveu sete peças, seis das quais a companhia de Amélia Rey Colaço, levou à cena, no Teatro Nacional, entre 1939 e 1944, recebidas com entusiasmo por um público de extracção burguesa, sensível ao seu entrecho sentimental, habilmente doseado com laivos de ténue crítica social e afirmações de fervor nacionalista: Degredados (1930), de tema colonial, A Volta (1931), Fascinação (1932), Manuela (1934), Camaradas... (1937) e Vendaval (1944); de colaboração com Tomás Ribeiro Colaço escreveu ainda a comédia A Estrangeirinha, representada em 1932, mas, ao contrário das anteriores, inédita em livro.
Traduziu peças de A. Obey, D. Amiel, L. Zihaly, irmãos Quintero e C. G. Viola. No teatro radiofónico, usou o pseudónimo de Maria João do Vale.
Quando se estreou como poetisa, Júlio Dantas enalteceu-a. Já em nossos dias, António Salvado, na Antologia da Poesia Feminina Portuguesa (1972), diz que Virgínia Vitorino escreveu «alguns dos mais interessantes sonetos da poesia portuguesa de amor»

in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994


Sir Oswald Hornby Joseph Birley, Marye Frances Pole Carew (1903-1987)
 

"A velhice chega quando se começa a dizer: 
'Nunca me senti tão jovem'."


(Jules Renard)


Jules Renard 

Pierre-Jules Renard (22 de Fevereiro de 1864 em Châlons du Maine, Mayenne, França - 22 de Maio de 1910, em Paris, França) foi um escritor. Foi co-fundador do Mercure de France, a sua amizade com Edmond Rostand despertou o seu interesse pelo teatro (Le Pain de Ménage) (1898) Plaisir de Rompre (1897).
As suas narrações incluem descrições naturalistas da Normandia e análises realistas dos ciclos intelectuais e burgueses da cidade de Paris. Outra obras importantes foram: Poil de Carotte (1894), em que narra a marginalização a que é submetida uma criança ruiva.
Moralista amargo, nas suas obras procede por justaposição de imagens, breves e incisivas. Publicou o romance Poil de Carotte em 1894, que adaptou ao teatro em 1900. Os inúmeros volumes do seu Diário (1887-1910) caracterizam-se por um invariável estilo lacónico. A sua dramaturgia é considerada a mais representativa do teatro naturalista: Le Plaisir de rompre (1897), Le Pain de ménage (1898) e La Bigote (1909).

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