domingo, 28 de dezembro de 2014

"Solidão" - Poema de Francisco Bugalho

 

  O Sobreiro, 1905, pintura de D. Carlos I (1863-1908)
Fundação da Casa de Bragança 
 
 
Solidão

 
Vago aroma de esteva, ao mesmo tempo ardente e virgem,
E este murmúrio doce da folhagem,
São o falar do mato, na estiagem,
Segredando os mistérios da origem.

Calma profunda, doce, resignada...
A vida não é mais do que o viver
Da paisagem nostálgica e pasmada.

A solidão tem dedos de veludo,
De frementes afagos delicados.
— Bendita solidão, que beijas tudo,
Onde andarão meus sonhos desvairados?!...

Nestes montados,
Que purificação me invade a alma!
Como entra, em mim, toda a serenidade
Dos ermitões, orando na paisagem!

Nesta paisagem,
Calma, calma, calma,
Como a Eternidade.


Francisco Bugalho
in "Paisagem"
 
 
 
 Retrato do rei D. Carlos, 1902, por Roque Gameiro (1864 - 1935)  
 
[Aguarela representando o rei D. Carlos, de pé, a mais de meio corpo, voltado ligeiramente para a esquerda. Enverga o grande uniforme de Marechal General, tendo o capacete na mão direita, enquanto a esquerda assenta no punho da espada. Traz a tiracolo a banda das Três Ordens Militares portuguesas e ostenta condecorações. No segundo plano, à esquerda, pende um reposteiro carmesim apanhado em baixo, sobre o qual foram apostas as Armas de Portugal. À direita, surgem dois balaústres de uma varanda, por sobre a qual, e já no último plano, se vê o mar sulcado por dois navios. Esta aguarela está inserida numa moldura de casquinha dourada e envidraçada. Segundo o Livro do Tombo, a peça pertenceu sempre ao Palácio Nacional de Mafra. Foi colocada na Sala n.º 63, Sala D. Pedro V, Sala dos Instrumentos Musicais e Sala da Caça, onde se mantém.] (Daqui)


D. Carlos I, de seu nome completo Carlos Fernando Luís Maria Victor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon e Saxe-Coburgo-Gotha, (28 de Setembro de 1863 — 1 de Fevereiro de 1908) foi o penúltimo Rei de Portugal.

Nascido em Lisboa, era filho do rei Luís I de Portugal e da princesa Maria Pia de Saboia, tendo subido ao trono em 1889. Foi cognominado O Diplomata (devido às múltiplas visitas que fez a Madrid, Paris e Londres, retribuídas com as visitas a Lisboa dos reis Afonso XIII de Espanha, Eduardo VII do Reino Unido, do Kaiser Guilherme II da Alemanha e do presidente da República Francesa Émile Loubet), O Martirizado e O Mártir (em virtude de ter morrido assassinado), ou O Oceanógrafo (pela sua paixão pela oceanografia, partilhada com o pai e com o príncipe do Mónaco).
 
A trágica morte do penúltimo rei português num atentado no Terreiro do Paço, em 1 de Fevereiro de 1908, marcou o início do fim da monarquia portuguesa. O regicídio prenunciou a Proclamação da República, consumada dois anos depois. Mas a vida do monarca que afrontou a progressão do Republicanismo e o Ultimato britânico de 1890 foi também marcada pelas artes e ciências. (Daqui)
 

Praia de Cascais, 1096 - Aguarela de D. Carlos I

[Praia de Cascais é uma pintura a aguarela da autoria do pintor e rei português Carlos de Bragança e foi pintado em 1906. A pintura pertence ao Casa-Museu Anastácio Gonçalves de Lisboa.]
 
 

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