sábado, 14 de fevereiro de 2015

"A Concha" - Poema de Vitorino Nemésio


Joaquín Sorolla y Bastida, Valencian Fisherman, 1897



A Concha


A minha casa é concha. Como os bichos, 
Segreguei-a de mim com paciência: 
Fachada de marés, a sonho e lixos; 
O horta e os muros – só areia e ausência. 

Minha casa sou eu e os meus caprichos. 
O orgulho carregado de inocência 
Se às vezes dá uma varanda, vence-a 
O sal que os santos esboroou nos nichos. 
 
E telhados de vidro, e escadarias 
Frágeis, cobertas de hera – oh bronze falso! 
Lareira aberta ao vento, as salas frias. 

A minha casa... Mas é outra a história: 
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço, 
Sentado numa pedra de memória. 


O Bicho Harmonioso (1938)

Análise e interpretação de textos de Vitorino Nemésio (Aqui).



Joaquín Sorolla y BastidaThe Small cove, Javea, 1898


Joaquín Sorolla y Bastida (27 de Fevereiro de 1863, Valência - 10 de Agosto de 1923, Cercedilla), foi um pintor espanhol. Sua obra tem sido rotulada como impressionista, pós-impressionista e Luminista.

Conhecido como o Pintor da Luz, foi o mais prolífico dos pintores espanhóis, com mais de 2 200 obras em seu poder. Foi um retratista notável e, entre essas obras, deve-se ressaltar o retrato de Juan Ramón Jiménez (Nobel de Literatura, 1956).


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