segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

"O Horror de ser Pobre" - Poema de Bertolt Brecht



Marià Fortuny i Marsal (1838-1874), Viejo desnudo al sol, 1871 (Museu do Prado)



O Horror de ser Pobre


Risco c'um traço
(Um traço fino, sem azedume)
Todos os que conheço, eu mesmo incluído.
Para todos estes não me verão
Nunca mais
Olhar com azedume.

O horror de ser pobre!
Muitos gabavam-se que aguentariam, mas era ver-
-lhes as caras alguns anos depois!
Cheiros de latrina e papéis de parede podres
Atiravam abaixo homens de peitaça larga como toiros.
As couves aguadas
Destroem planos que fazem forte um povo.
Sem água de banho, solidão e tabaco
Nada há que exigir.
O desprezo do público
Arruína o espinhaço.

O pobre
Nunca está sozinho. Estão todos sempre
A espreitar-lhe para o quarto. Abrem-lhe buracos
No prato da comida. Não sabe para onde há de ir.
O céu é o seu teto, e chove-lhe lá para dentro.
A Terra enxota-o. O vento
Não o conhece. A noite faz dele um aleijado. O dia
Deixa-o nu. Nada é o dinheiro que se tem. Não salva ninguém.
Mas nada ajuda
Quem dinheiro não tem.
in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela


Marià Fortuny i Marsal, Autorretrato, 1858, 


Marià Fortuny i Marsal, nome completo Mariano José Maria Bernardo Fortuny y Marsal (Reus, Espanha, 11 de junho de 1838 – Roma, 21 de novembro de 1874), foi um pintor e gravador catalão, considerado com Eduardo Rosales, como um dos pintores espanhóis mais importantes do século XIX depois de Goya.
Seu incentivador foi o avô e seu mestre, o pintor Domènec Soberano.

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