domingo, 9 de agosto de 2015

"A Segurança Destas Paralelas" - Poema de Pedro Tamen


Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), By the Water (Near the Lake), c.1880



A segurança destas paralelas


A segurança destas paralelas 
— a beira da varanda e o horizonte; 
assim me pacifico, e é por elas 
que subo lentamente cada monte. 

O tempo arrefecido, e só soprado 
por uma brisa tarda que do mar 
torna este minuto leve aconchegado, 
traz mansas as certezas de se estar. 

E vêm novos nomes: são as fadas, 
gigantes e anões, que são assim 
alegres de o serem — parcos nadas 

que enchendo de silêncios este sim 
dele fazem brinquedos, madrugadas... 
Agora eu estou em ti e tu em mim. 


Pedro Tamen, in “Tábua das Matérias”


Pedro Tamen


Poeta português, Pedro Mário Alles Tamen nasceu a 1 de dezembro de 1934, em Lisboa. 
Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, foi diretor de uma editora (Editora Moraes) e administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, e co-dirigiu as revistas Anteue Flama. Lecionou no ensino secundário, fez crítica literária no semanário Expresso e foi ainda presidente do PEN Clube Português, entre 1987 e 1990. 
Traduziu Imitação de Cristo, dos Fioretti de S. Francisco, Cantos de Maldoror, de Breton, e ainda outras obras de autores como Sartre, Foucault, Camilo José Cela, Georges Bataille, Georges Pérec, Flaubert e Gabriel García Márquez. Em 1990 obteve o Grande Prémio da Tradução. 
Depois de uma crise religiosa, converteu-se ao catolicismo em 1953, não deixando as obras de estreia, em 1956 e 1958, de refletir uma busca da transcendência, traduzida numa escrita poética fundada na rutura com a causalidade e com a referência, encontrando no esplendor da própria linguagem o efeito lustral da palavra. Para António Ramos Rosa, "a poesia de Pedro Tamen é um incessante exercício de liberdade que corre o risco de se perder na insignificação total e, por outro lado, uma busca permanente de uma frescura inicial (que é a frescura da dimensão do instante recuperado na sua transparência); e, além disso, não obstante a opacidade negativa de muitos dos seus poemas, é também a reinvenção que, no próprio obscurecimento do sentido, instaura uma possibilidade aleatória, que é já uma esperança e uma vitória sobre o drama existencial" (ROSA, António Ramos - Incisões Oblíquas, p. 91). 
A sua obra poética, iniciada em 1956 com Poema para Todos os Dias (Ed. Do Autor, Lisboa) encontra-se reunida em Retábulo das Matérias (Gótica, Lisboa, 2001). Em 1999 foi publicado um disco-antologia intitulado Escrita Redita (poemas ditos por Luís Lucas; Ed. Presença / Casa Fernando Pessoa). Em 2006 a Oceanos publicou o seu livro de poesia Analogia e Dedos. A poesia de Pedro Tamen mereceu já as seguintes distinções: Prémio D. Dinis (1981), Prémio da Crítica (1991), Grande Prémio Inapa de Poesia (1991), Prémio Nicola (1997), Prémio da Imprensa e prémio PEN Clube (2000). (Daqui)

Sem comentários: