quarta-feira, 30 de setembro de 2015

"A Varina" - Poema de José de Almada Negreiros



José de Almada Negreiros, Peixeiras (Tapeçaria)



A Varina


Lá na Ribeira Nova
onde nasce Lisboa inteira
na manhã de cada dia
há uma varina
e se não fosse ela
ai não sei
não sei que seria de mim!
Por ela
fiz dois versos a todas as varinas:
E vós varinas que sabeis a sal
e trazeis o mar no vosso avental!
Acho parecidos estes versos
com as varinas de Portugal.

Uma vez falei-lhe
para ouvi-la
e vê-la
ao pé.
A voz saborosa
os olhos de variar
castanhos de variar
castanhos escuros de variar
com reflexos de variar
desde a rosa
até ao verde
desde o verde
até ao mar.

Num reflexo refleti:
não dar aquele destino
ao meu destino aqui.

Lisboa, 1926
 
José de Almada Negreiros
in POEMAS
Assírio & Alvim


José de Almada Negreiros, Pescador (Tapeçaria)



“Do trabalho das tuas mãos comerás tranquilo e feliz.” 




Sem comentários: