domingo, 6 de novembro de 2016

"Desencontro" - Poema de António Gedeão


Abbott Fuller Graves, Ye Olde Time Drugge Shop, Date unknown, Private collection 



Desencontro


Que língua estrangeira é esta 
que me roça a flor do ouvido,
um vozear sem sentido
que nenhum sentido empresta?
Sussurro de vago tom,
reminiscência de esfinge,
voz que se julga, ou se finge
sentindo, e é apenas som.

Contracenamos por gestos,
por sorrisos, por olhares,
rodeios protocolares,
cumprimentos indigestos,
firmes aperto de mão,
passeios de braço dado, 
mas por som articulado,
por palavras, isso não.
Antes morrer atolado
na mais negra solidão.


Rómulo de Carvalho (pseudónimo  António Gedeão)


Abbott Fuller Graves, Fishermen in Conversation


"... Eu tenho sobre a história uma ideia que está longe de ser a mais frequente. Penso que, quem faz a história, não é o governo de uma nação. Sou eu, a vizinha do andar do lado e o merceeiro que está estabelecido com loja na esquina da rua. É o par de namorados que passa de lambreta ou o operário que vai para a oficina com a malinha do almoço. É o poeta, é o pensador, é o cientista, é tudo, toda a gente, a que sai e a que fica em casa, todos, todos, exceto os que compõem o governo. Esses só têm uma atitude permanente, que é a de, atónitos, solucionarem, ou verdadeiramente ou falsamente, os problemas que lhes são impostos..."


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